Pablo Morenno Após minha experiência de adoção, tenho conversado com professores sobre a formação do vínculo e sobre o afeto na relação pedagógica. É um tema espinhoso. Mas precisamos conversar sobre ele.
Como se fosse um mantra, tenho repetido no início das conversas e assim também encerro: não há educação sem vínculo, e não há vínculo sem afeto.
Piaget foi um dos primeiros teóricos que questionou a separação entre conhecimento e afeto. Até então se pensava que aprender não tinha nada a ver com a relação “amorosa” que se estabelece entre o mestre e o discípulo. No livro “Abstração reflexionante- Relações lógico-elementares e ordem das relações espaciais” o pensador defende que toda ação e pensamento comportam um aspecto cognitivo, representado pelas estruturas mentais, e um aspecto afetivo, representado por uma energética, que é a afetividade. Ou seja, “a afetividade constitui aspecto indissociável da inteligência, pois ela impulsiona o sujeito a realizar as atividades propostas”. Segundo o autor, “os educandos alcançam um rendimento infinitamente melhor quando se apela para seus interesses e quando os conhecimentos propostos correspondem às suas necessidades”.
Poucos professores se dão conta que a “motivação” para aprender não é algo inato. Mesmo o aluno inteligente, precisa dessa “energética”, que é a afetividade para fazer disparar suas capacidades cognitivas. Para se trabalhar o afeto, há que se superar o mito de que as emoções são estruturas acabadas. No livro já citado , Piaget trabalha a ideia de que as emoções são aprendidas e construídas socialmente.
Todo professor com um pouco de experiência sabe que crianças com dificuldades de relacionamento na escola, agressivas, com autoestima baixa, - quase sempre rotuladas de difíceis complicadas, sem limites, e sem educação – são, na verdade, crianças com problemas de afeto, e isso pode (e deve) ser trabalhado pelos professores.
Profissionais da educação que se preocupam apenas em passar o conteúdo são bons técnicos, mas péssimos professores. Professor, para merecer este nome, precisa olhar seu aluno buscando nele sua melhor possibilidade e catando mais emoção do que inteligência. Criar vínculo é estabelecer com o aluno um olhar do mundo em vai-e-vem, onde ambos crescem como seres humanos e se deslumbram com os encantamentos do conhecer. Só assim a educação acontece.
Pablo indica:
“A Casa Imaginária – Leitura e Literatura na primeira Infância”, de Yolanda Reyes.
Baseada em sua oficina “Espantapájaros” em Bogotá, a autora, escritora e psicopedagoga mostra a importância da literatura e da contação de histórias na criação de significados da vida e do mundo e na elaboração das emoções e do afeto na primeira infância. Livro imprescindível na biblioteca de qualquer professor, especialmente do ensino fundamental.