Pablo Morenno
Ismael se aventurou nos oceanos para caçar Moby Dick. Santiago enfrentou um mar imenso para fisgar um Merlin e mostrar para seu discípulo Manolin como era um mestre pescador. Nossos meninos e meninas se mutilam, e até chegam ao suicídio seguindo a Baleia Azul. Quais mudanças no mundo estariam afetando as aventuras de nossos novos heróis?
O homem é animal costurado por desafios. Deixou caverna para caçar nas florestas, descobriu continentes desbravando oceanos. Coisas óbvias desse bicho inquieto. E é na juventude quando este desejo aflora com força maior. Graças aos jovens, o mundo se renova na busca do desconhecido ou um jeito inédito de fazer o já feito. Não deveriam os nossos jovens seguirem os instintos de nossos antepassados?
A literatura, em sua construção simbólica, projetou o desejo humano pela superação de seus limites. Temos heróis adultos como Santiago e Ismael, ou crianças e jovens como Peter Pan, Alice, Doroti, Chapeuzinho Vermelho, João e Maria. Eles sobreviveram para contar suas histórias. É importante observar, que quando o aventureiro é uma criança ou jovem, sempre há adultos por perto com seus conselhos (mãe da chapeuzinho), ou intervindo na história num momento crítico (uma fada). Essa dimensão humana ensina: é dos adultos a tarefa de mostrar aos mais novos como pescar baleias e grandes peixes saindo vivos de qualquer aventura. Isso se faz com afeto, presença, ouvidos e corações abertos aos jovens.
Se buscar aventuras é próprio de nossa natureza humana, se nossos filhos já não voltam íntegros de suas experiências, se não temos dúvidas de que cabe aos adultos acompanhar as crianças nessas descobertas, o erro não pode ser deles. Como qualquer homem ou mulher de qualquer tempo, apenas atendem ao chamado da Baleia ou de um grande peixe. Não é assim que consolidados nossa espécie como superior aos demais seres do mundo? Assim, também, seguirão fazendo os jovens pelos séculos dos séculos. Será que nossa velhice nos fez esquecer do papel de nossa responsabilidade: ser mestres, mediadores e exemplos?
Pablo Morenno